domingo, 24 de agosto de 2008

Queda

Olhos fechados.
Deslizei as mãos no beiral da ponte. Fuligem. Poeira. Áspero. Gritos mecânicos às minhas costas fluíam em ondas revoltas. Ergui as pernas.
Impulso. Sentei no beiral. O vento contrário martelou-me o corpo. Tentou preservar-me. O fluxo atrás de mim cessou. Ainda vibrava em meu peito. Inclinei-me. A ponte, minha cadeira de balanço.
Fui. Voltei. Fui. A vibração parou. Hesitei. Esperei. O vento amigo repetiu-se. A vibração às costas não parou. Explodiu nervosa. Maior. "Quem me olharia?"
Abri os olhos.
O sol refletido na água cegou-me. A pressão às costas combatia o vento. "Algum carro sorriria ao me ver?"
O vento acariciou minhas mãos. Subiu até meu rosto. Beijou-me. Morreu.
A pressão mecânica venceu.

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