A cidade estava em desespero. Nada funcionava. Era preciso reformular princípios e valores. Os Burocratas sabiam somente de um homem capaz de tal façanha, o Homem Relógio. Mecanicamente metódico e precisamente regulado. Criaria um método de perfeita execução para a eternidade e salvaria a cidade.
O Homem Relógio acordou pontualmente às seis horas da manhã. Como em todos os sete dias da semana, nas quatro semanas do mês, nos 12 meses do ano, dos últimos trinta e oito anos. Mas hoje era um dia fora da normalidade padronizada. O Homem Relógio iniciaria a construção do Método. Mudar a rotina o incomodava (o Homem Relógio padronizara sua vida no passado), mas também o alegrava.
Arrumou-se. Saiu de casa. Passou pelas mesmas ruas cotidianas. Saudou os mesmos rostos cotidianos. Menos aqueles atrasados em seu trajeto. Chegou ao Setor Municipal de Arquivamento de Dados.
Ao vê-lo no serviço, o Chefe Arquivista espantou-se. Perguntou-lhe por que estava ali. Afinal dispensaram-no para criar o tão afamado Método. O Homem Relógio nada respondeu. Não era preciso. O Chefe Arquivista sabia a resposta. O Homem Relógio fora ao trabalho, pois era seu hábito. Saiu e retornou para casa. Agora, criaria o Método.
À tarde recebeu da Prefeitura o material necessário para executar os estudos. Organizou com meticuloso cuidado o porão. À noite tudo estava arrumado. Sentiu-se estranho. Tantas mudanças repentinas (tivera menos de três meses para adaptar-se) o chateavam. Mas ajustou-se as circunstâncias. Seu planejamento de vida previra isso. Dormiu pontualmente às dez horas da noite. No dia seguinte, começou as experimentações.
Seguindo o protocolo, rumou para o antigo emprego e retornou para casa. Agora, não havia rotina a seguir. Implantaria novas. Trancou-se no porão. Não precisava, morava sozinho. Mas a caótica imprevisibilidade era insegura.
Um quadro negro ocupava uma das paredes. No centro dele escreveu com métrica perfeita o objetivo de criar o método. Embaixo, o procedimento-padrão a adotar. Poucas informações. Suficientes para lembrá-lo de como e por que trabalhar nos momentos em que seu corpo se recusasse a cumprir o protocolo.
Retirou da estante alguns livros. Consultou fórmulas. Anotou-as em outro quadro negro menor na frente da mesa de trabalho.
Sentou-se. Olhou as fórmulas do pequeno quadro. Escreveu o princípio do Método. Rápido, mas não frenético. Tampouco desleixado. Respeitava de sobremaneira as margens das folhas. Ao terminar, numerava e guardava-as em um porta-folha retangular de madeira. Assim, passou o dia. Escrevendo e anotando. Calculando e decifrando. Pesquisando e pesquisando.
Os dias de trabalho sucederam-se. A nova rotina purificou-se. Estava o mais próximo da exatidão possível para um ser humano. A única maneira do Homem-Relógio não sentir-se estranho com a mudança. Logo, os dias deram lugar às semanas de trabalho intenso, às semanas foram sucedidas pelos meses e por fim os meses transformaram-se em dois longos anos de trabalho.
Afinal, o Método estava pronto. Arestas aparadas. Cálculos refeitos e retestados tantas vezes quanto necessário para provar sua exatidão. Todas as palavras analisadas com minúcia em seu valor lingüístico e semântico. Frases, parágrafos, vírgulas e pontos juridicamente analisados para evitar as distorções das interpretações humanas.
Sentou e contemplou sua obra. Pela primeira vez lia sem buscar perfeição ou erros. Lia como a um jornal ou livro. Lia por deleitar-se. O prazer sumiu. Surgiu o medo (outro estaria em pânico, mas o Homem Relógio controlava-se). Medo da verdade fundamental transmitida pelo Método. Este só seria perfeito e funcionaria para sempre, quando seu criador morresse. Assim jamais seria alterado.
Em instantes a certeza inabalável substitui o medo. O Homem Relógio providenciaria sua morte.
Iniciou os estudos para determinar como morrer. Não poderia simplesmente matar-se, as pessoas desacreditariam do Método e não o cumpririam. Também não poderia desaparecer, era fundamental que soubessem de sua morte.
O tempo passava. As possibilidades eliminadas. Afogamento não serviria, pensariam que o Método naufragaria. Parada cardíaca ou outras mortes naturais pensariam que morreria de velhice. Atropelado, diriam que traria má sorte. Outros acidentes terminariam da mesma forma.
As horas deram lugar aos dias, os dias foram sucedidos pelas semanas e as semanas transformaram-se em meses.
Quatro meses de trabalho e o Homem Relógio encontrara a forma ideal de morrer. Assassinado por um grupo Antimetodista durante a entrega do Método aos Burocratas. Diante das câmeras de televisão e da população. Dessa forma, as pessoas seguiriam com total confiança e certo fanatismo o infalível Método.
Era necessário, portanto, criar um grupo Antimetodista radical desejoso pelo fim do Método. Não importando os meios.
Outra vez pesquisou e planejou. Pensava em como seria a humanidade com a implantação do Método. Padronizada, disciplinada, regrada. Isso o fazia trabalhar com mais afinco na sua morte.
As horas deram lugar aos dias, os dias foram sucedidos pelas semanas e as semanas transformaram-se em meses. Dois meses e a Morte do Homem Relógio estava preparada. O procedimento para criação do grupo Antimetodista pronto e testado. Os resultados experimentais com a criação dos Antifontistas foram excelentes. Em duas semanas os Antifontistas destruíram as Fontes de Água construídas em granito da cidade.
A divulgação planetária de sua morte fora testada. A Festa das Fontes, organizada pelos Fontistas para revitalizar as Fontes graníticas de Água obteve repercussão mundial.
Dessa forma, o mais importante dos procedimentos fora testado e comprovado pelos Fontistas. O Procedimento da Reação Contrária e Construtiva. A chave para a aceitação do Método no planeta. Com o assassinato do Homem-Relógio pelos Antimetodistas, nos moldes do Procedimento de Assassinato, um grupo oposto seria criado, os Metodistas.
Os dias seguintes foram agitados para a vida regrada do Homem Relógio. Saia com freqüência de casa. Ia as regiões mais sombrias da cidade. Construía polêmica em relação ao Homem Relógio e o Método. Não se preocupava em ser reconhecido, pois tinha o rosto comum.
Com o passar das semanas, o procedimento floresceu mecanicamente. Chegara a hora de falar com os Burocratas.
Os preparativos para a entrega do Método em praça pública fluíam. Os Antimetodistas organizavam-se e ficavam mais agressivos. As manifestações em frente ao palanque de entrega do Método eram diárias.
Uma emoção antiga, trancafiada no passado pela padronização, surgiu no Homem Relógio. Orgulho. Surgido da execução magistral dos planos, procedimentos e pesquisas.
O sentimento inominável espalhou-se pelo Homem-Relógio. Dominou cada célula de seu corpo como um câncer. As horas passaram e deram lugar aos dias, estes foram lentamente substituídos por três intermináveis semanas. O sofrimento palpitava nas veias.
O Homem Relógio lutava com bravura, extraindo forças de sua alma. (A qual não acreditava existir, até combater para preservar os procedimentos e o Método do sentimento abominável). Dia após dia perdia terreno. A cada derrota, outros sentimentos voltavam com força e vontade de existir pouco conhecida pelas pessoas. Sentimentos exilados no padrão por anos clamavam seu direito de existência. Centímetro a centímetro escalavam o controle do Homem Relógio.
Estava insone há dois dias. Tinha medo de ao acordar, o controle de seu corpo não mais lhe pertencer. Faltava doze horas para a Morte.
Vestiu o termo preto e sentou-se no porão. Pressionou o Método contra o peito. Olhos fixos no relógio da parede.
Os segundo passavam vagarosamente. O tiquetaque envolvia-o como uma música. De início suave e doce, tornava-se cruel e áspera.
Os segundos não mais davam lugar aos minutos. Davam lugar a vagarosas braçadas de metal que com esforço se reuniam em dezenas, depois em quartos de minuto e com força em meios minutos. Quando chegavam aos três quartos de minuto o coração do Homem Relógio quase parava de bater, esperando ansioso pela conclusão de um ínfimo e antes tão rápido minuto.
Da mesma forma os minutos não davam mais lugar às horas, mas sim davam lugar às dezenas, quartos e meias horas. Muito mais vagarosamente, cediam lugar às horas cheias. Na verdade, há somente uma hora cheia. Ainda faltava outras onze horas para a cerimônia. Outras vinte e duas meias horas. Outros quarenta e quatro quartos de hora. Outros seiscentos e sessenta minutos. Outros longos e intermináveis mil trezentos e vinte meios minutos. Outros dois mil seiscentos e quarenta quartos de minutos e por fim outros trinta e nove mil e seiscentos pontuais, precisos e morosos segundos.
Faltando três horas para a cerimônia, os Burocratas buscaram o Homem Relógio. Ele, apavorado com sua morte, mas firme na decisão de entregar o Método.
O Homem Relógio olhou para o palanque. O Chefe dos Burocratas discursava. Na multidão enxergou os Antimetodistas espalhados. Estavam armados. O Procedimento de Assassinato do Homem Relógio dizia isso.
Subiria ao palanque em menos de um minuto. Perdeu a batalha. Não estava no controle de seu corpo. Algo o controlava e desejava vida e não o Método.
Seus olhos desesperados procuravam uma saída da casa de espera dos oradores. Infelizmente, o único caminho para fora era uma linha reta até o palanque. Precisaria subir no estrado e sair correndo. Só assim sobreviveria. Só assim seria livre do Método e do Homem Relógio.
O Chefe dos Burocratas chamou-o. O Homem-Relógio paralisou-o. Recebeu um empurrão. Caminhou em direção ao palanque. Subiu o primeiro degrau. Armas engatilharam. Subiu o terceiro degrau. Pessoas descobriram o rosto tatuado com o símbolo dos Antimetodistas. Subiu o quinto degrau. Gritos de morte ao Método. Saltou do sexto degrau em diante. Armas dispararam em sua direção.
Correu pelo palanque. Saltou para o chão. O ombro queimou de lado a lado. O caos na multidão em fuga bloqueou-lhe a saída. Ficou encurralado ao lado do palanque.
Os seguranças dos Burocratas dispararam. Mas nada impediria o Procedimento de Assassinato. Infelizmente, o Homem Relógio não morreu naquele dia. Mas, Aquele quem controlava o corpo.
No chão, o morto sorria e chorava. Metade do rosto um sorriso moderado e padrão; metade um esgar de dor, sofrimento e tristeza.
O Homem Relógio acordou pontualmente às seis horas da manhã. Como em todos os sete dias da semana, nas quatro semanas do mês, nos 12 meses do ano, dos últimos trinta e oito anos. Mas hoje era um dia fora da normalidade padronizada. O Homem Relógio iniciaria a construção do Método. Mudar a rotina o incomodava (o Homem Relógio padronizara sua vida no passado), mas também o alegrava.
Arrumou-se. Saiu de casa. Passou pelas mesmas ruas cotidianas. Saudou os mesmos rostos cotidianos. Menos aqueles atrasados em seu trajeto. Chegou ao Setor Municipal de Arquivamento de Dados.
Ao vê-lo no serviço, o Chefe Arquivista espantou-se. Perguntou-lhe por que estava ali. Afinal dispensaram-no para criar o tão afamado Método. O Homem Relógio nada respondeu. Não era preciso. O Chefe Arquivista sabia a resposta. O Homem Relógio fora ao trabalho, pois era seu hábito. Saiu e retornou para casa. Agora, criaria o Método.
À tarde recebeu da Prefeitura o material necessário para executar os estudos. Organizou com meticuloso cuidado o porão. À noite tudo estava arrumado. Sentiu-se estranho. Tantas mudanças repentinas (tivera menos de três meses para adaptar-se) o chateavam. Mas ajustou-se as circunstâncias. Seu planejamento de vida previra isso. Dormiu pontualmente às dez horas da noite. No dia seguinte, começou as experimentações.
Seguindo o protocolo, rumou para o antigo emprego e retornou para casa. Agora, não havia rotina a seguir. Implantaria novas. Trancou-se no porão. Não precisava, morava sozinho. Mas a caótica imprevisibilidade era insegura.
Um quadro negro ocupava uma das paredes. No centro dele escreveu com métrica perfeita o objetivo de criar o método. Embaixo, o procedimento-padrão a adotar. Poucas informações. Suficientes para lembrá-lo de como e por que trabalhar nos momentos em que seu corpo se recusasse a cumprir o protocolo.
Retirou da estante alguns livros. Consultou fórmulas. Anotou-as em outro quadro negro menor na frente da mesa de trabalho.
Sentou-se. Olhou as fórmulas do pequeno quadro. Escreveu o princípio do Método. Rápido, mas não frenético. Tampouco desleixado. Respeitava de sobremaneira as margens das folhas. Ao terminar, numerava e guardava-as em um porta-folha retangular de madeira. Assim, passou o dia. Escrevendo e anotando. Calculando e decifrando. Pesquisando e pesquisando.
Os dias de trabalho sucederam-se. A nova rotina purificou-se. Estava o mais próximo da exatidão possível para um ser humano. A única maneira do Homem-Relógio não sentir-se estranho com a mudança. Logo, os dias deram lugar às semanas de trabalho intenso, às semanas foram sucedidas pelos meses e por fim os meses transformaram-se em dois longos anos de trabalho.
Afinal, o Método estava pronto. Arestas aparadas. Cálculos refeitos e retestados tantas vezes quanto necessário para provar sua exatidão. Todas as palavras analisadas com minúcia em seu valor lingüístico e semântico. Frases, parágrafos, vírgulas e pontos juridicamente analisados para evitar as distorções das interpretações humanas.
Sentou e contemplou sua obra. Pela primeira vez lia sem buscar perfeição ou erros. Lia como a um jornal ou livro. Lia por deleitar-se. O prazer sumiu. Surgiu o medo (outro estaria em pânico, mas o Homem Relógio controlava-se). Medo da verdade fundamental transmitida pelo Método. Este só seria perfeito e funcionaria para sempre, quando seu criador morresse. Assim jamais seria alterado.
Em instantes a certeza inabalável substitui o medo. O Homem Relógio providenciaria sua morte.
Iniciou os estudos para determinar como morrer. Não poderia simplesmente matar-se, as pessoas desacreditariam do Método e não o cumpririam. Também não poderia desaparecer, era fundamental que soubessem de sua morte.
O tempo passava. As possibilidades eliminadas. Afogamento não serviria, pensariam que o Método naufragaria. Parada cardíaca ou outras mortes naturais pensariam que morreria de velhice. Atropelado, diriam que traria má sorte. Outros acidentes terminariam da mesma forma.
As horas deram lugar aos dias, os dias foram sucedidos pelas semanas e as semanas transformaram-se em meses.
Quatro meses de trabalho e o Homem Relógio encontrara a forma ideal de morrer. Assassinado por um grupo Antimetodista durante a entrega do Método aos Burocratas. Diante das câmeras de televisão e da população. Dessa forma, as pessoas seguiriam com total confiança e certo fanatismo o infalível Método.
Era necessário, portanto, criar um grupo Antimetodista radical desejoso pelo fim do Método. Não importando os meios.
Outra vez pesquisou e planejou. Pensava em como seria a humanidade com a implantação do Método. Padronizada, disciplinada, regrada. Isso o fazia trabalhar com mais afinco na sua morte.
As horas deram lugar aos dias, os dias foram sucedidos pelas semanas e as semanas transformaram-se em meses. Dois meses e a Morte do Homem Relógio estava preparada. O procedimento para criação do grupo Antimetodista pronto e testado. Os resultados experimentais com a criação dos Antifontistas foram excelentes. Em duas semanas os Antifontistas destruíram as Fontes de Água construídas em granito da cidade.
A divulgação planetária de sua morte fora testada. A Festa das Fontes, organizada pelos Fontistas para revitalizar as Fontes graníticas de Água obteve repercussão mundial.
Dessa forma, o mais importante dos procedimentos fora testado e comprovado pelos Fontistas. O Procedimento da Reação Contrária e Construtiva. A chave para a aceitação do Método no planeta. Com o assassinato do Homem-Relógio pelos Antimetodistas, nos moldes do Procedimento de Assassinato, um grupo oposto seria criado, os Metodistas.
Os dias seguintes foram agitados para a vida regrada do Homem Relógio. Saia com freqüência de casa. Ia as regiões mais sombrias da cidade. Construía polêmica em relação ao Homem Relógio e o Método. Não se preocupava em ser reconhecido, pois tinha o rosto comum.
Com o passar das semanas, o procedimento floresceu mecanicamente. Chegara a hora de falar com os Burocratas.
Os preparativos para a entrega do Método em praça pública fluíam. Os Antimetodistas organizavam-se e ficavam mais agressivos. As manifestações em frente ao palanque de entrega do Método eram diárias.
Uma emoção antiga, trancafiada no passado pela padronização, surgiu no Homem Relógio. Orgulho. Surgido da execução magistral dos planos, procedimentos e pesquisas.
O sentimento inominável espalhou-se pelo Homem-Relógio. Dominou cada célula de seu corpo como um câncer. As horas passaram e deram lugar aos dias, estes foram lentamente substituídos por três intermináveis semanas. O sofrimento palpitava nas veias.
O Homem Relógio lutava com bravura, extraindo forças de sua alma. (A qual não acreditava existir, até combater para preservar os procedimentos e o Método do sentimento abominável). Dia após dia perdia terreno. A cada derrota, outros sentimentos voltavam com força e vontade de existir pouco conhecida pelas pessoas. Sentimentos exilados no padrão por anos clamavam seu direito de existência. Centímetro a centímetro escalavam o controle do Homem Relógio.
Estava insone há dois dias. Tinha medo de ao acordar, o controle de seu corpo não mais lhe pertencer. Faltava doze horas para a Morte.
Vestiu o termo preto e sentou-se no porão. Pressionou o Método contra o peito. Olhos fixos no relógio da parede.
Os segundo passavam vagarosamente. O tiquetaque envolvia-o como uma música. De início suave e doce, tornava-se cruel e áspera.
Os segundos não mais davam lugar aos minutos. Davam lugar a vagarosas braçadas de metal que com esforço se reuniam em dezenas, depois em quartos de minuto e com força em meios minutos. Quando chegavam aos três quartos de minuto o coração do Homem Relógio quase parava de bater, esperando ansioso pela conclusão de um ínfimo e antes tão rápido minuto.
Da mesma forma os minutos não davam mais lugar às horas, mas sim davam lugar às dezenas, quartos e meias horas. Muito mais vagarosamente, cediam lugar às horas cheias. Na verdade, há somente uma hora cheia. Ainda faltava outras onze horas para a cerimônia. Outras vinte e duas meias horas. Outros quarenta e quatro quartos de hora. Outros seiscentos e sessenta minutos. Outros longos e intermináveis mil trezentos e vinte meios minutos. Outros dois mil seiscentos e quarenta quartos de minutos e por fim outros trinta e nove mil e seiscentos pontuais, precisos e morosos segundos.
Faltando três horas para a cerimônia, os Burocratas buscaram o Homem Relógio. Ele, apavorado com sua morte, mas firme na decisão de entregar o Método.
O Homem Relógio olhou para o palanque. O Chefe dos Burocratas discursava. Na multidão enxergou os Antimetodistas espalhados. Estavam armados. O Procedimento de Assassinato do Homem Relógio dizia isso.
Subiria ao palanque em menos de um minuto. Perdeu a batalha. Não estava no controle de seu corpo. Algo o controlava e desejava vida e não o Método.
Seus olhos desesperados procuravam uma saída da casa de espera dos oradores. Infelizmente, o único caminho para fora era uma linha reta até o palanque. Precisaria subir no estrado e sair correndo. Só assim sobreviveria. Só assim seria livre do Método e do Homem Relógio.
O Chefe dos Burocratas chamou-o. O Homem-Relógio paralisou-o. Recebeu um empurrão. Caminhou em direção ao palanque. Subiu o primeiro degrau. Armas engatilharam. Subiu o terceiro degrau. Pessoas descobriram o rosto tatuado com o símbolo dos Antimetodistas. Subiu o quinto degrau. Gritos de morte ao Método. Saltou do sexto degrau em diante. Armas dispararam em sua direção.
Correu pelo palanque. Saltou para o chão. O ombro queimou de lado a lado. O caos na multidão em fuga bloqueou-lhe a saída. Ficou encurralado ao lado do palanque.
Os seguranças dos Burocratas dispararam. Mas nada impediria o Procedimento de Assassinato. Infelizmente, o Homem Relógio não morreu naquele dia. Mas, Aquele quem controlava o corpo.
No chão, o morto sorria e chorava. Metade do rosto um sorriso moderado e padrão; metade um esgar de dor, sofrimento e tristeza.
2 comentários:
Pow!! Qual era o método? Se ele ia revolucionar uma realidade então porque o watchmam desistiu na última hora?
Sempre tenho a sensação de que seus contos deveriam continuar!
A mudança sempre é vista como uma barreira aos olhos de quem está acomodado, então surgem os conceitos que distorcem a nova realidade para que ela não seja aceita, até mesmo no inconsciente do criador do método o sentimento do novo gerou a insegurança. Por isso até mesmo a nova realidade se tornará cômoda na mente do criador e isso foi demais para o watchman. A questão é que o watchman construiu, mas desconstruiu antes de concretizar. Talvez não tenha sido só o medo da mudança que levou watchman a desejar a não realização do seu projeto, mas o medo da nova realidade tbm se tornar cômoda. Bah!! Isso é loucura!
Quantas pessoas não desistem nos instantes finais de uma mudança?
O novo gerou vários sentimentos no Homem-Relógio, não apenas insegurança, tudo isso colaborou para o velho eu retornar.
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